segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

O fantasma da bolha chinesa

Inundada por uma onda sem precedentes de liquidez, a China vê seus mercados de capitais e de imóveis inflarem perigosamente. Os desdobramentos desse novo ciclo estão no topo das preocupações internacionais

Por LUCIENE ANTUNES
No auge da crise global, depois dos estragos feitos nos Estados Unidos e na Europa, parecia razoável supor que o vendaval financeiro chegaria também à mais dinâmica das economias mundiais - a China. Na época, o país começava a apresentar alguns sintomas de fragilidade diante da queda livre da demanda internacional. A situação ameaçava interromper bruscamente um longo e necessário ciclo de progresso chinês, uma expansão capaz de tirar da miséria milhões de pessoas dominadas por um regime de força. Mas a hora da China ainda não estava para chegar. O governo de Pequim agiu rapidamente, tratando o paciente como um moribundo já nos primeiros sintomas de baixa imunidade. Preventivamente, injetou na economia 600 bilhões de dólares, o maior plano de emergência do mundo, proporcionalmente ao tamanho do PIB (14% no caso chinês, ante 2% nos Estados Unidos). No momento de pânico, grande parte dos analistas previa um crescimento de 6% para o PIB chinês em 2009, uma tragédia para um país que precisa crescer a taxas próximas ou maiores que dois dígitos, sob o risco de sofrer uma convulsão social. Mas, graças em grande parte à monumental injeção de recursos do Estado, a economia chinesa avançou 8,7% no ano passado, gerando impactos positivos para vários outros países, incluindo o Brasil.
Como todo tratamento de choque, os efeitos colaterais no caso chinês não tardaram a aparecer. O pacote chinês inundou a economia com uma onda sem precedentes de liquidez. E o dinheiro seguiu seu curso natural - o mercado imobiliário e o de capitais. O comportamento do preço dos imóveis nas grandes metrópoles é o sinal mais evidente de que uma bolha pode estar se formando. "Os preços estão atingindo valores irreais e, cedo ou tarde, essa bolha irá estourar", diz a bilionária Zhang Xin, presidente e uma das fundadoras da Soho China, a maior construtora de Pequim. "Até lá, vamos continuar construindo e vendendo."
SOMENTE NO ÚLTIMO ANO, os imóveis em cidades como Xangai valorizaram mais de 50% e desde 2006 os preços mais que dobraram. "O setor imobiliário da China, inundado de capital especulativo, parece uma Dubai multiplicada por 1 000, ou pior", diz Jamens Chanos, fundador da empresa gestora de fundos de hedge Kynikos Associates, sediada em Nova York. Chanos é um dos analistas mais empenhados em alertar o mundo sobre os riscos de estouro da bolha especulativa chinesa. Ele defende que o governo comunista vem manipulando os dados de crescimento do PIB e subestimando a ferocidade da inflação e prevê que a ruptura da bolha chinesa deve ser inevitável até 2012. "Bolhas são melhor identificáveis por excesso de crédito disponível do que por alta de valores. E não há um lugar no planeta com mais excesso de crédito do que a China."

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